A culpa é tema constante na clínica. Aparece sob vários disfarces ou é escancarada em discursos autodepreciativos. É uma emoção que se apresenta à nossa consciência através da sensação de sermos indignos, maus, e nos brinda, ainda, com remorso e censura. Geralmente é o resultado de muita raiva guardada que se volta contra nós mesmos.
Se apresenta também quando valorizamos demais nossas falhas, erros e imperfeições, gerando crenças infundadas ao nosso respeito.
A partir deste autojulgamento implacável nos punimos, sofrendo emocional e psiquicamente as conseqüências desta autodepreciação... sem dó nem piedade.
Pessoas que se preocupam excessivamente com a opinião dos outros, que têm dificuldade em dizer não, que precisam agradar e não se sentem merecedoras de coisas boas são grandes vítimas deste famigerado sentimento.
Outros, ainda, podem se sentir culpados pelo conceito de pecado imposto por muitas religiões, pela manipulação de uma sociedade arcaica com seus preconceitos e expectativas irreais que trazem a sensação de não sermos o bastante, dignos, bons, brilhantes...
Remorso, tristeza, sofrimento, imobilidade e, muitas vezes, doenças, são o resultado deste sentimento que não leva a lugar nenhum. Se trocássemos a palavra culpa por responsabilidade talvez mudássemos a perspectiva sobre nossos atos e sobre nós mesmos. Ao nos culpar ficamos na estagnação da vítima, que nada tem a fazer – apenas sofrer.
Quando, ao contrário, nos responsabilizamos, olhamos nossos atos e sentimentos sob a luz da transformação, saímos do passado e nos voltamos para o presente revendo comportamentos e sentimentos. Ao aceitar nossas imperfeições, tratamos de aprender com os erros. Este simples trocar de verbo proporciona crescimento e faz com que acreditemos na capacidade de nos modificar, mudando a forma de sentir e de estar no mundo.
Adriana Roitman